quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Agridoce.



Falar de cinema na mesma semana em que Bergman e Antonioni deixam as telas em branco,pode parecer insignificante.Mas como eles tanto mostravam em suas obras,falar de cinema é uma vontade doente e impetuosa,são despejados sem pré-seleções,todas as imagens,sensações e palavras não ditas;no papel ou no filme.E foi essa urgência que me levou a escrever sobre o amargo “Candy”.

A produção independente australiana,conta com Heath Ledger e a iniciante Abbie Cornish no papel de um jovem casal viciado.Dan,é um poeta pouco promissor e Candy uma talentosa,porém sem inspiração,pintora.E é da arte compartilhada que surge a mistura tempestuosa de almas.

Antes de tudo,”Candy” é um filme sobre vícios e a perda da inocência.Apesar das várias situações degradantes em que os personagens se em encontram,é difícil reaprendê-los.Eles agem como crianças apaixonadas como se pode ver na bela cena inicial;o casal antes do vício,em um brinquedo que parece um disco de vinil rodando,sorridentes e confusos,na embriaguez de sensações,que permanece no filme todo. Ledger e Abbie são realmente corrompidos,pelo mundo adulto.A dificuldade de adaptação e sonambulismo dos pais é evidente.O amor dos dois chega a ser sufocante como um bom vício; Dan mesmo diz “Eu não queria arruinar a vida da Candy,eu só queria fazer a minha melhor”.O vício de Dan era a própria essência de sua namorada,a sua alma entorpecida que ele dividia com a dele.Tanto que quando ela entra na reabilitação e volta saudável,ele vê que é hora de parar.

A direção é interessante,com os vários cortes repentinos,a fotografia amarelada remete ao doce e infantil,o roteiro preza pela praticidade e suavidade,a linguagem se expressa através de simbolismos. Ledger prova que não vai ser estigmatizado pelo famoso papel gay,e explora toda sua dramaticidade reprimida em Brokeback Moutain.

O filme pode lembrar “Réquiem para um sonho” e se inspirar descaradamente em “Transporting” em algumas cenas,mas acaba ganhando seu estilo exatamente pela sutileza ao tratar de imagens tão fortes.E no final,o maior de todos os vícios perdura,o de viver através de outro,a ânsia pelo amor,que no filme não têm nada de doce.É amargo,sufocante e o pior de tudo,necessário.

Trailer

Um comentário:

tainah disse...

Poxa, nunca tinha ouvido falar desse filme.

nhé!