O pacote,a garrafa e os efeitos:como não amar ninguém.

I don't love anyone
I met a man today
He told me something pretty strange
There's always somebody saying something
He said, "The world is as
soft as lace."
But I don't love anyone


[Belle and Sebastian-I dont love anyone]

Quando todas as garotas da escola trocavam cartas de amor e diziam que tal garoto era “gatinho”(hahahahahah) eu mal me dava conta que haviam pessoas a minha volta.Não que eu fosse autista(=D) só não conhecia esse tipo de amor,o pior deles.O que vem com um pacote inteiro de sentimentos e sensações,desde do desagradável frio na barriga ao sorriso mais bobo do mundo.Eu conhecia poucos itens do pacote.Sempre tive a imaginação fértil,meu mundo me bastava,e garotos só existiam nele como figurantes.E quando eu vi minhas amigas os tornando personagens principais fiquei confusa.

A confusão continuou até meus dezessete anos mal completados.Eu não lembro dia,nem hora,mas minha memória cinematográfica de milhares de romances assistidos,gravou o dia que eu me apaixonei pela primeira vez.Não foi romântico nem mágico como nos filmes,eu me apaixonei por um timbre de voz no meio de uma aula de história.O tempo não parou nem eu comecei a ouvir passarinhos,mas eu comecei senti os primeiros sintomas do pacote.

O amor não foi legal comigo desde o começo. Parecia que ele queria descontar o tempo que passei sem sua supervalorizada presença.As conversas,os olhares que de vez em quando se cruzavam,afavam o coração de uma atrasada e atrapalhada garota que não sabia nada do assunto.As pequenas coisas pareciam tão importantes e todos os dias tinham o propósito de uma nova conquista.As garotas cochichando empolgadas,os olhares prolongados,as piadas,nossas expectativas podiam tocar o céu e fazer um grande sorriso.As garotas continuam conchichando até hoje,por que diferente dos homens,nós sempre seremos garotas

O teatro platônico e lúdico que havia surgido no meu mundo era divertido.Mas como toda comédia têm a face trágica,e nada no amor é em pequenas doses,o pouco que cabia em mim vazou.Mais uma vez me vi em uma cena de filme.E parecia um indie super dramático.Uma garora dizendo para um garoto tudo que sente,em uma esquina de colégio.Sabe quando você fala muito e não sai nada do que você realmente quer dizer?Pois é.Isso não aconteceu.Eu falei tudo que queria dizer.E como minha alma quase/gêmea,ele fez o que eu faria.Nada.

Depois de muitas conversas,muito silêncios constrangedores,não houve resoluções.E amor abriu seu pacote todo.Lágrimas,conversas ao telefone com as amigas,acessos de ódio,músicas de fossa,livros de vestibular,sorvete e dores inexplicáveis foram meus companheiros por um bom tempo.Meu mundo tinha sido invadido por um figurante revoltado,querendo o papel principal,e eu estava lutando desesperadamente para expulsa-lo.
O tempo passou e a história de que o tempo cura é maior bobagem.Eu não me curei de nada,acho que a dor nos persegue a vida toda.Minha vida,as pessoas que a habitam,os lugares que passei me fizeram empurrar esse sentimento para dentro de uma garrafa e tomei tudo em doses variadas.Os efeitos colaterais são para sempre.Os poucos e outros amores ficaram por pouco tempo.O primeiro sempre me faz disparar o coração quando o vejo,rir de suas loucuras,me transportar no tempo com seu cheiro.Nos vemos pouco,mas como almas/quase gêmeas nossso olhares ainda se compreendem.E agora com 20 anos me vejo sem amores.Eu não amo ninguém.

Eu queria todas as pieguices do amor de volta,e até as coisas ruins,hoje tenho mais serenidade sobre o assuto,por que toda maturidade perde a razão quando se trata desse assusnto.Meus outros amores me satisfazem completamente,eu contemplo minha vida através deles,mas ainda sinto falta do platonismo,do amor dos tolos.Como nos filmes eu espero que o mundo pare,que os beijos sejam na chuva e tenha trilha sonora no fundo.Como na realidade...bem,eu só espero que SEJA.