All the nobody people.

As contas


Acho que chega um ponto na vida de todo mundo que as coisas e pessoas começam a que desaparecer. Primeiro são os brinquedos infantis na adolecência, aquelas barbies de cabelos coloridos que você nunca mais viu, e alguns amigos que um belo dia decretam sumiço; com aquele adeus daquela forma sincera e despreocupada que só criança sabe fazer.

Na idade adulta ( vide a supostamente a que eu deveria me encontrar) são os cadernos velhos do colégio, a mente livre de preocupações pertinentes como o professor de matemática podia faltar são substituídas por um incessante E agora, o que falta?. E de repente a gente aprende que adeus não é mais fácil de dizer, que as pessoas não estão perdidas em alguma estrela por aí, e que tem dores piores que a de mertiolathe na ferida do tempo que ainda era vermelho.

A morte muda tudo talvez com a mesma força que a vida muda tudo. Maria perdeu 5 dos 6 filhos. Sumiram do quarto do último os ladrilhos coloridos dos anos 60, uma estante marrom de untensilhos hospitalares com luvas que serviam também para pintar os cabelos. Em surtos de lucidez ele superava a ordem natural do sumiço das coisas e lembrava do meu nome e me lançava um olhar curioso.

Maria agora só tem os netos, um filho, uma pequena família. Ela tem também um terço e umas cantigas bonitas católicas, mesmo que minhas elegias sejam outras, uma das poucas coisas que aprendi com a idade foi ter menos cinismo menos ter fé na crença dos outros, e ouvindo sobre esse mundo de redenções divinas e perdões até entendo a devoção.

É da natureza que tudo seja esquecido e que tudo acabe sem rastros de nossa existência, as vezes eu acho que a gente só serve para perdurar lembranças já que o único tempo concreto mesmo é o presente. Mas seja lá qual a função, é preciso continuar.


"When you're gone, all that is left behind are the memories you created in other people's lives or just a couple of items on a bill..."