quarta-feira, 9 de abril de 2008


A selvageria de uma alma.

Logo quando "Into the Wild" começa, surge uma citação do ultra-romântico Byron sobre a importância do homem sempre recorrer as forças naturais quando preciso, e que a temperança da humanidade surgia, quando se aprende a amar não menos o homem, e sim mais a natureza. Confesso que mesmo começando com uma citação de um dos meus autores prediletos, o filme já tinha me ganhado antes de começar. O tema "natureza" sempre me atraiu e nem sei o motivo, talvez uma paixão fajuta por ela, ou pelo bizarro fato de que quando era pequena conversava altos dilemas existênciais com um pé-de-laranja, e a primeira redação que fiz na vida , dediquei ao frutífero amigo :D

Agora parando as confissões constrangedoras #), o filme é baseado no livro de mesmo nome, do autor Jon Krakauer, e relata a história real de Chirs McCandless, um jovem de 23 que larga sua vida privilegiada para ser andarilho, e acaba morrendo depois de 100 dias vivendo sozinho no Alaska. A verdade é que quando li sobre essa história não consegui ver a profundidade de seu personagem , e acho que quase todo mundo sente a mesma coisa. Na realidade tão real que vivemos é realmente estúpido ver um jovem brilhante resolver virar um ingênuo vagabundo. E de fato, Chris vira um vagabundo mesmo, um vagabundo iluminado! É quase impossível não sentir uma grande empatia pelo rapaz.

O que nos faz realmente ficar na bosta, é ver sua paixão pelas suas verdades e seu esforço para se manter fiel a elas. Em nenhum momento parece fácil o que ele faz, ele realmente come o pão que o diabo amassa e esfrega o pé nessas andanças, e o principal; as ideologias não possuem aquele apelo perjorativo enjoado "love and peace" de gente que parou no passado, ou pior, de quem é dono da verdade. Ele não queria achar as soluções para o mundo, ele só queria achar as soluções para a sua própria vida, perdido na selva de autores e livros que gostava tanto, do ambiente familiar que o contaminava tanto. Acabou se encontrando nas pessoas que foi conhece pela viajens, procurando levar consigo uma parte delas, mas jamais permitindo que elas ficassem com uma parte dele.

Devo confessar que o diretor e roteirista Sean Penn está me conquistando cada vez mais, seja pelo narigão e cara de acabou de sair de uma reabilitação, ou por já ter adorado " Sobre meninos e Lobos". Mas "Into The Wild " é de uma maturidade e beleza incrível, nem parace que é seu terceiro filme como diretor. Destaque também para Emile Hirsch, que já arrasô do lado do Justin como Yo-deliquente- juvenil em "Alpha Dog", e fez um digno trabalho na pele do aventureiro. A trilha sonora também merece a atenção, pois quem assina é Eddie Vedder, que largou as guitarras cebosinhas do grunge e pegou o chapéu de cowboy, levando um Globo de Ouro para casa. A delicadeza das canções e a voz grave de Vedder casam perfeitamente com Cris, e acredito que seja uma das forças motores do longa.

E é isso. Para mim, "Onde os fracos não têm vez" parece incrivelmente OVERRATED e entediante quando lembro das paisagens, energia e filosofia de "Into the Wild". Quando o filme acabou, eu já estava aos prantos com um irmão inconformado do lado, segurando bravamente o choro e fugindo para a cozinha. A história de Cris toca as pessoas. Nos lembra que partir seja para sempre ou por algum tempo, é a experiência comum de todos e inevitável, como uma das poucas certezas da vida. Aí chego a conclusão que as memórias mesmo que doloridas ou felizes demais, acabam sendo a única coisa que nos restam, e mesmo que nostalgia não seja um sentimento que deva ser cultivado a longo prazo, preciso dela para lembrar quem eu sou e quem eu devo ser. Como uma linha invisível, que posso não ver mas sei que está lá. Por isso, acabo preferindo fagulhas intercaladas de uma mente com lembranças(afinal eternamente, é tanto tempo!) E o brilho eterno, eu deixo para o sol, para as estradas, para a liberdade.


Como diz a música do Anathema: "Looking outside inside"

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