domingo, 15 de julho de 2007

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Escrito em 12/01/04


"It's damned if you don't and it's damned if you do"



Na garganta ela podia ainda sentir o leve incômodo do susto recém tomado.O despertador martelou 6:45 minutos,cinco deles perdidos em relutância,era uma manha quente.Talvez fosse o nervosismo que queimava o seu estômago.No momento ela que já não sabia quase nada sobre a vida,tão pouco podia palpitar sobre sintomas médicos.Mas tentava descrever de forma pausada nos seus pensamentos,que era um aperto na garganta,como se tivesse engolido um pedaço de gelo,e fortes contrações no estômago,imaginou até alguém dentro de sua barriga chutando todos seus órgãos.

Borboletas no estômago.Não parecia mesmo.Tomou um pouco de café e se vestiu pensando no que ele poderia notar.Não sabia como aquelas meninas no colégio ficavam tão lindas de uniformes.Pouco sabia sobre o que era beleza.No espelho,surgiu um sorriso torto quase de conformidade,não havia muito o que se fazer.Ele a via todos os dias dessa forma.

Depois de 15 minutos que arrastaram como anos dentro do carro,chegou até a escola.Os passos eram mais lentos que o habitual.E no seu rosto o sangue desapareceu,mas a testa estava suada.Qualquer um que a tocasse podia confundi-la com um defunto.O som das pessoas conversando,parecia sair em eco.Sentia-se dopada apesar de nunca ter bebido.Mas devia ser essa sensação.Se fosse,prometeu a si mesma que nunca ia beber.Os passos foram saindo meio desconcertados,algumas pessoas a reparavam com expressões compadecidas.Ela queria ajuda mesmo.Se alguém tivesse coragem de aborda-la para ajuda,aceitaria com o sim mais aliviado do mundo.Mas continuou caminhando.Movida por uma coragem pouco vibrante,mas extremamente destemida.Como ela queria que outra pessoa olhasse para ela de novo,dessa vez nem esperaria a abordagem.Seu peito palpitava tão forte que ficou lembrando das aulas de biologia,dos sintomas de uma possível taquicardia.

E lá no fundo do corredor estava.Sua silhueta adquiria um formato místico.Como quando se está tentando enquadrar certo ponto de uma foto,e desfocar o resto.Não estava chovendo,não tinha trilha sonora no fundo e muito menos câmera lenta.Tudo parecia se fundir,cores,sons e imagens como uma viagem ruim de ácido.Como os hippies gostavam disso?A visão foi ficando menos confusa.Ele conversava energeticamente com os amigos.Só ele conseguia ter tanta energia essa hora da manha.Ela quase podia entender o que ele dizia.Ele riu.Ele tinha a risada mais gostosa de se ouvir.Mas quando se está apaixonado no grau doentio que ela estava,quase tudo que ele fazia era lindo.Tinha noção da quantidade exorbitante de açúcar que corria nas suas veias.Ele não era o menino mais bonito,muito menos o mais popular.Ele só era uma cara incrível,com a melhor risada.Ah,isso é mesmo,retrucou na batalha esquizofrênica que travava entre seu cérebro e seus hormônios,e mal percebeu que estava a dois metros dele.

Parou de andar como se tivesse um poste invisível na sua frente.Sempre fazia isso,desligava-se do mundo por alguns segundos.Ele olhou para ela finalemente,e seu sorriso foi desaparecendo devagar.Não que ele tivesse ficado triste de vê-la,mas nos seus olhos,ele esperava ouvir alguma coisa:

-Acorda menina!

Ele bateu no ombro dela e junto veio o seu sorriso de novo.Podia sentir suas pernas de novo,e recuperar o sangue do seu rosto.Ela riu apertado.
-Achava que você não vinha hoje...-na sua voz ela podia sentir uma leve tristeza,e tentou rapidamente se convencer de que era pura impressão -É amanha.

-Ei,nós já vamos.A aula já começou.Você vem?

Toda vez que ela chegava perto,os amigos dele se afastavam.Nunca soube exatamente o motivo.Não tinha nada contra eles.Mas achava bom.

-Eu vou ficar mais um pouco.

Respondeu para o alívio dela.

-O que foi?

Ouvia tanto essa frase de sua boca,O seu rosto.Por um momento sentiu uma angústia terrível querendo memoriza-lo.

-Ah...você acha mesmo que...-tentava abafar a angústia,arregalou os olhos e balançou a cabeça-...que eu não me despediria de você,seu convencido.-finalizou com um sorriso escudo.

Ela deu um leve empurrão no ombro dele devagar já mais aliviada,mas a dor na garganta voltara.

-Eu não sei.Você odeia despedidas.

Esboçava uma seriedade dúbia. Ela odiava quando ele fazia isso.Sua seriedade era mais desconcertante que o sorriso,conhecia todas suas expressões,por isso odiava quando ele não esboçava nenhuma.

-É...mais a gente abre exceções para pessoas que nós conhecemos a quanto tempo mesmo?-põe a mão no queixo debochada,ele desmancha a formalidade e ri-15 anos?

Ele a puxa de supetão para uma abraço meio desconfortável.Pessoas brutas deviam fazer cursos para não acabarem quebrando ossos em demostrações de carinho.Ficaram abraçados por uma eternidade.Calados,perdidos em expectativas,medos.Ela só conseguia olhar para o corredor vazio,inebriada pelo cheiro do seu cabelo,e mais uma vez pensou nas aulas de biologia.Seu coração estava parando.

-Você vai me escrever não é?Você vive escrevendo tempo todo,se eu não receber pelo menos 2 cartas por semana,vou ficar indignado!

Não conseguiu responder.Ela não tinha certeza que queria escrever para ele.Já tinha uma carta no bolso,escrita há dois anos atrás,em uma noite de insônia que descobrira-se apaixonada pelo seu melhor amigo.Ela desprendeu-se dos braços dele.Ele procurava os olhos dela e ela finalmente o encarou.

-Você quer que eu chore?Pois saiba que já fiz uma lista de novos prováveis melhores amigos.-disse desdenhosa sorrindo,mas a voz era trêmula.

Ele enfiou as mãos no bolso,sempre fazia isso quando não tinha assunto.Terminou com as três namoradas que teve fazendo esse mesmo gesto.E estava terminando com ela também.

-Vou para a aula,mesmo que não adiante muita coisa...-disse ele rindo e tirando as mãos do bolso para o alívio dela,que quase solta um suspiro.

Puxou a carta amassada do bolso rapidamente antes que ele mudasse de idéia e enfiasse as malditas mãos de novo no bolso.

-É...-hesitou,gaguejou e apertou os olhos-Ah...a primeira.

Ele pegou a carta,sentiu suas perna dormentes de novo.Ele examinou,o papel amarelado e amassado,parecia que tinha pegado chuva.Na verdade tinha sido lavada dentro de sua calça uma vez.E entre tantas idas e voltas,o papel já estava bem desgastado.Devia gravar esse momento.Queria ficar comparando com todas as cenas que ela imaginava.

-Eu acho que vou precisar ler com uma máscara.-disse debochado

Ela riu nervosa.Ele enfiou a carta no bolso e deu as costas para ela a caminho da sala de aula.Ela não sentiu o alívio imediato que imaginava...faltava alguma coisa...

-Ei!!

Ele virou para ela assustado.Não sabia o que ia perguntar.Só queria olhar para ele.Antes que tudo mudasse.Que ele mudasse.

-Por que teus amigos sempre saem quando eu vou falar contigo?

Ele estranhou a pergunta,riu confuso,a aula já estava acabando;

-Eu não sei...para falar a verdade.Acho que eles sabem...ah sei lá.-ele balançou a cabeça desitindo.Ficou olhando para ela.Sempre procurava respostas na amiga,mesmo quando nem sabia a pergunta.-Passa lá em casa mais tarde.

Ela riu trazendo algumas lágrimas aos olhos.Ele riu encabulado:

-Tchau esquisita...

Ela acenou com a mão.E depois desabou em lágrimas.Era bem diferente ali.Sentir tudo aquilo que ela apenas na sua imaginação.Sentia um alívio doloroso.Era liberdade.Que ficasse na minha cabeça,que ficasse...
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3 comentários:

Anônimo disse...

as vezes a melhor maneira de nao se decepcionar com as pessoas

é nao esperar nada delas...

maria clara disse...

concordo com o anônimo.
mas não acho mesmo que o texto seja sobre decepção.
ele é sobre esperança, não?
partidas são esperança.
saudade é esperança.
e pequenas demonstrações de afeto também traduzem isso.

Anônimo disse...

convi-te
http://azaroseuquerida.wordpress.com/2007/07/17/the-book-is-on-the-table/